24 de fevereiro de 2014

Conto (ou reconto) aqui como a Internet entrou na minha vida ...
E na sua, como foi?

Um presente de dia das mães inesquecível

Em 1996, meu presente de Dia das Mães foi um "fax modem" para meu bom e velho (velho mesmo) computador. Até então, só conhecia Internet de "ouvir falar". Mas tinha muita curiosidade. E expressava esse meu interesse. Sempre. Insistentemente.


Então, meus filhos, 17, 20 e 22 anos à época, tiveram a grande idéia: vamos "conectar" a mamãe.

A instalação do modem foi um parto.
A conexão, um evento.
As primeiras incursões, uma aventura.

Passados os primeiros momentos de puro deslumbramento, o olhar inocente deu lugar ao pedagógico, e uma pergunta começou a me atormentar: como incorporar aquela novidade à minha prática já sedimentada numa experiência de mais de 25 anos?

A questão foi se transformando em desafio: passar de uma usuária comum e primária do computador a uma profissional de ensino que fizesse uso educativo da Internet. Não apenas de maneira instrumental, mas de uma maneira positiva e crítica. Meu feelling me alertava que, para isso acontecer, seria necessária desenvolver uma visão bem fundamentada dos procedimentos pedagógicos que favorecessem a assimilação e multiplicação dos efeitos e das ações de um recurso como a Internet no processo ensino-aprendizagem. Essa visão eu não tinha naquele momento e nem sabia bem como e onde buscá-la. Só sentia.

Ainda nessa época, 96, 97, assisti a acalorados debates sobre o uso da Internet na Educação. As opiniões divergiam em vários aspectos. Porém, uma idéia predominava: Internet é uma ferramenta. Só isso. Ou tudo isso, como argumentavam seus mais ardorosos defensores.

Percebi, então, que para nós, educadores, surgia um novo recurso - uma nova linguagem, na verdade - com características que precisavam ser conhecidas, analisadas e exploradas com propriedade e exaustivamente. Essa foi minha tarefa durante aqueles primeiros anos. E continua sendo.

Como a escola em que trabalhava - uma escola pública municipal da região do ABC paulista - já contava com dois laboratórios de informática, com 40 computadores novos e conectados à Internet, a possibilidade de usá-los para desenvolver minhas aulas de Língua Portuguesa pareceu bastante viável. Reconheço que fui pretensiosa. Ou melhor, ousada. E ousadia em certa dose faz bem. Recomendo.

Assim, em 97, coloquei no ar um site pessoal com conteúdo próprio para trabalhar com meus alunos do Ensino Médio. Porém, apenas uma boa infra-estrutura física não é suficiente para garantir, de imediato, a aceitação e o sucesso de projetos que tenham novas tecnologias como suporte. Antigas e consistentes convicções da instituição escola ficam fragilizadas diante de uma novidade tecnológica, hierarquias há muito internalizadas são colocadas em dúvida, a rotina tradicional da unidade escolar é consideravelmente alterada, novos e complexos padrões se impõem com força e velocidade assustadoras.

Hoje, olhando pra trás, vejo isso com uma clareza assustadora. E sei dar nome àquelas reações todas que aconteceram. Aquelas resistências já estão até categorizadas e conheço estratégias para vencê-las mais facilmente. Sim, porque, pasmem, elas ainda acontecem. Em menor escala, mas acontecem.

Como professora de Língua Portuguesa, coordenadora de área e, posteriormente, coordenadora de projetos, pude, entre 96 e 2003, dividir com meus colegas das diversas áreas, muitas dúvidas e poucas certezas, crenças e descrenças, grandes frustrações e pequenas alegrias, receios, inseguranças, anseios, desejos, revoltas e resignações quanto a possibilidade/necessidade/urgência/inexorabilidade de mudanças e inovações nas formas de desenvolver nossa atividade docente, principalmente no que diz respeito à incorporação de novas tecnologias a um processo já tão complexo por natureza.

Após passar por diferentes etapas de diferentes aprendizados e adquirir mais habilidades para "mexer com computador", ou melhor, entender um pouco da lógica da web, estudar muito, consegui reunir condições mínimas para associar os recursos que os dispositivos oferecem aos objetivos de uma atividade docente que os novos tempos impunham claramente. Isso não significou o final da tarefa, pois, com a velocidade dos avanços tecnológicos e das mudanças sociais, essas condições tiveram - e têm - que ser revistas quase que a cada dia.

A mudança de paradigma é complexa e envolve questões de toda ordem: tecnológica, trabalhista, ideológica, cultural, psicológica, entre outras nada menos difíceis. Mas é inevitável e implica o aprender todo dia, aprender a vida inteira. Inserir-se na cultura digital.

Dezessete anos depois, é gostoso relembrar aquele dia de maio. Agradeço sempre a meus filhos pelo presente que, confesso, me pareceu estranhíssimo naquela manhã de dia das mães.

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Sônia