Para lançar luz sobre o tema e nos ajudar a visualizar respostas a esta pergunta, recorro à experiência de Judi Harris, educadora que trabalha no College William & Mary, na cidade de Williamsburg, Virgínia, EUA.
Converse com Judi Harris ao vivo AQUI 12 .07 - 11h30
Ela é especialista em Currículo e Tecnologia Educativa e desenvolve já há alguns anos uma pesquisa sobre a relação entre as ferramentas digitais e a ação pedagógica. O intuito do seu trabalho é exatamente reconhecer conhecimentos necessários aos professores para tornar as práticas pedagógicas associadas às inovações tecnológicas mais eficazes.
Em outubro passado, Judy Harris foi uma das convidadas para abrir o VI Encontro Internacional EducaRede e, já no vídeo que enviou como apresentação pessoal, fez provocações muito interessantes que deram o tom do que seria sua participação presencial.
Em uma delas, a pesquisadora pede que se relembre uma propaganda veiculada na TV americana em que se propõe a arquitetos que desenhem, projetem uma casa em volta de um determinado modelo de torneira.
É a mesma coisa que, freqüentemente, nesses últimos vinte e cinco anos, temos feito com educadores, diz ela. Desenhem experiências de ensino-aprendizagem em torno de uma determinada tecnologia, dispositivo, continua, sinalizando já a valorização excessiva do conhecimento tecnológico e suas implicações.
A analogia com a educação aparece por meio da uma imagem (ao lado) que ilustra com muita propriedade o questionamento que norteia todo trabalho da pesquisadora: Ferramentas são fundamentais. Mas são elas que devem configurar nossa ação pedagógica? Apesar de ferramentas serem poderosas, terem funcionalidades atraentes, muitas vezes sedutoras, não é em torno de, ou a partir de ferramentas que deveríamos planejar nossa aula, nossa atividade, nosso projeto pedagógico.
A apresentação segue com mais provocações baseadas em imagens muito expressivas que nos motivam fortemente a refletir sobre a maneira como estamos lidando com as tecnologias da informação e da comunicação no âmbito do processo ensino-aprendizagem.
É o caso do próprio título que ela atribui à sua palestra - Não mais rabos movendo os cães: uma nova compreensão da integração das TIC –, metáfora que reitera sua posição: não são os equipamentos, os aparatos tecnológicos que devem direcionar a atuação do professor. Não são as tecnologias que devem mover o processo ensino-aprendizagem. Assim como não é o rabo que move o cãozinho. Traduzindo: não se trata de conhecer muito bem uma ferramenta e elaborar uma aula em torno dela, mas sim criar um projeto em torno das necessidades dos alunos.
A imagem do martelo, usada pela educadora, também chama muito a atenção pela força que tem para expressar uma postura bastante comum entre educadores que enxergam nas ferramentas tecnológicas a solução mágica – a panacéia - para todas as situações: quando se tem um martelo novo, brilhante, pode-se sair por aí achando que tudo é prego. Ferramentas têm grande potencial para ajudar alunos a aprenderem mais, professores a ensinarem melhor, afirma. O problema é quando deixamos que as ferramentas sugiram, ou decidam, o que e como vamos ensinar.
Judi Harris enfatiza então – no vídeo e, mais expressivamente, na palestra a que pude assistir presencialmente - a necessidade de um novo olhar para a maneira como a tecnologia está sendo integrada aos processos educativos. Mostra como resultado de sua pesquisa, a metodologia baseada no TPACK[1] - Technological Pedagogical Content Knowledge – que engloba três tipos básicos de conhecimentos - o tecnológico, o pedagógico e disciplinar - e três tipos de conhecimentos combinados – o pedagógico disciplinar[2], o tecnológico disciplinar[3] e o tecnológico pedagógico[4].
Para ela, a implementação adequada de uma metodologia alicerçada nessa modalidade de conhecimentos combinados – tecnológico, pedagógico, disciplinar –, aliada a bons recursos e professores bem formados, pode ser fator decisivo para que a incorporação de tecnologia em processos de ensino-aprendizagem aconteça de forma contextualizada, com uma compreensão de tecnologia relacionada à pedagogia e ao conteúdo.
Este tipo de conhecimento – TPACK Technological Pedagogical Content Knowledge - seria então, segundo a autora, o conhecimento necessário ao professor que deseja integrar tecnologia em suas aulas.
Vale dizer aqui também que, apesar de esta abordagem ter se tornado popular mais recentemente, desde a década de 90, outros autores[5] desenvolvem estudos sobre os diferentes tipos e modalidades de conhecimento que os professores dominam, ou devem dominar.
TPACK se fundamenta principalmente nas idéias de Lee Shulman, professor emérito da Stanford University School of Education, que, já em 1986, se dedicou à pesquisa do Conhecimento Pedagógico do Conteúdo – PCK.
Para saber + sobre TPACK
· Site dedicado ao modelo TPACK – Technological Pedagogical and Content Knowledge
· Designing and Doing
TPACK-Based Professional Development
http://www.eduteka.org/pdfdir/HarrisISTE2011Spotlight.pdf
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[2] Conhecimento pedagógico disciplinar: conhecimento típico e quase que exclusivo dos docentes: acontece, por exemplo, quando um professor de matemática sabe como avaliar corretamente , ou explicar da melhor forma possível qualquer aspecto da sua disciplina.
[3] Conhecimento tecnológico disciplinar: conhecimento muito necessário para qualquer profissional. É o conhecimento de que se vale um patologista na hora em que utiliza o microscópio para analisar corretamente um tecido.
[4] Conhecimento tecnológico pedagógico: conhecimento que não se produz sozinho, separado. È o conhecimento que junta à forma de ensinar com a tecnologia. Mas não serve para nada sem o conhecimento disciplinar.
[5] SHULMAN, L. Those who understand: Knowledge growth in teaching. Educational Researcher 15(2), 1986, p. 4-14.
PERRENOUD, P. Dez novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.
TARDIF, M. "Saberes profissionais dos professores e conhecimentos universitários. Elementos para uma epistemologia da prática profissional dos professores e suas conseqüências em relação à formação para o magistério". Rio de Janeiro, PUC - Rio, 1999.
TARDIF, M., LESSARD, C. e LAHAYE, L. Os professores face ao saber. Esboço de uma problemática do saber docente. Teoria e Educação nº 4, Porto Alegre: Pannônica, 1991.
Fico muito feliz e agradecida pelo conhecimento de alta qualidade compartilhado pela rede. Parabéns ao Lousa Digital pelo artigo que dimensiona nosso saber e influencia diretamente novas práticas educativas. O novo cenário das novas tecnologias da comunicação e informação nos insere no processo 'reflexão-ação' corrompendo simultaneamente nossas crenças, nos lançando diretamente à renovação efetiva de nossas salas de aula
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